Júlio entrava na sala para seu segundo dia de aula no colégio novo, assim que Rodrigo o avistou saiu do canto da sala e se aproximou dele.
– E aê, Júlio? Tudo tranquilo?
Júlio e Thiago estranharam a simpatia de Rodrigo pra cima dele.
– Tudo – respondeu Júlio levantando os ombros e assustado com a ação de Rodrigo.
Desde que soube do acidente envolvendo toda a família de Júlio, Rodrigo ficou muito arrependido por todo o bullying e todo o tratamento vexatório que o fez passar. Ele entendeu que Júlio estava estranhando sua ação mais amigável naquela hora e, por isso, resolveu ir com mais calma:
– Relaxa Júlio. Não precisa ficar assustado, eu só quero saber se está tudo certo contigo...
– Não tem como não ficar assustado com isso Rodrigo. Você? Perguntando como eu estou? É pra ficar preocupado.
– OK. Se precisar de alguma ajuda, qualquer coisa, pode falar comigo – disse ele olhando seriamente nos olhos de Júlio. Depois voltou para o fundo da sala para dar carinho e amor para suas garotas.
Júlio ficou sem ação. Não sabia o que estava acontecendo com Rodrigo.
– Cara o que há com o Rodrigo? – perguntou Thiago.
– E eu lá sei? Só sei que não acredito nele. Deve ser alguma armação. O Rodrigo não me engana não.
Na hora do intervalo Júlio e Thiago estavam conversando num dos bancos do pátio.
– Olha aqui Rodrigo – disse Fernando – os namoradinhos estão juntos de novo. O destino os uniu.
Na mesma hora Júlio e Thiago pararam de conversar e ficaram olhando para o eles. Isso sempre acontecia no passado e já esperavam a brincadeira de mau gosto.
– Eles só estão conversando Fernando – disse Rodrigo desta vez repreendendo a piadinha do amigo, deixando Júlio e Thiago sem fala – Eles são só amigos pow. Nada a ver você ficar aí zombando dos dois. Já sei o que é isso Fernando. É falta de um peitinho pra chupar.
Thiago ficou sério cabisbaixo e Júlio se esforçou para não rir do que Rodrigo acabara de dizer. Rodrigo sorriu ao perceber que Júlio estava querendo rir.
– Não liguem pro Fernando.
Júlio fechou a cara. Realmente não queria dar ideia nenhuma pra ele. Rodrigo entendeu o recado e se afastou deles.
Depois do intervalo, já em sala de aula. Júlio virou para trás para atender a cutucada que havia recebido de Rebeca. Ele percebeu que Rodrigo o observava e tentou disfarçar rapidamente mexendo com Cíntia.
– Júlio? Você está me ouvindo? Estou falando contigo? - perguntou Rebeca.
– Sim desculpe. Pode falar.
Quando chegava já em casa, assim que desceu da bicicleta no portão e ia colocar a chave. Avistou Rodrigo logo atrás, também de bicicleta. Fechou o semblante.
– O que você quer cara? – quis saber Júlio.
– Então é aqui que você mora?
– Não pow, vim assaltar essa casa hoje.
– Quer dizer que agora você é sarcástico!
– Rodrigo eu to falando sério agora. O que você quer? Tá me perseguindo, me defendendo, me cumprimenta quando eu chego no colégio. Fica me olhando dentro da sala de aula. Agora vem atrás de mim depois da aula. Tá muito estranho isso cara. Muito estranho mesmo. Ou você tá me perseguindo pra fazer mais uma de suas brincadeiras ou você tá me admirando secretamente.
Júlio disse isso num tom de sarcasmo.
– Claro que não, Júlio! Tá maluco?
Rodrigo balançou a cabeça olhando para baixo e pensou bastante antes de falar:
– Bem... Não queria dizer isso que vou dizer aqui não. Mas já que chegou ao ponto de você pensar que eu to a fim de você. – ele fez uma cara de nojo nesta parte – Eu vou te dizer a verdade então, Júlio. – respirou fundo e continuou – Eu sei que você é o garoto do caso da TV. Do acidente do almoço em família.
Rodrigo disse isso com uma cara muito triste.
Júlio respirou fundo como que se fosse começar a chorar, mas preferiu esconder a tristeza gritando contra ele:
– Quem te contou isso, caramba?!... Não já sei... Já sei quem foi... Foi a diretora não foi?
– Foi – disse Rodrigo com medo de assumir – Mas ela só contou porque eu fiquei enchendo o saco dela dizendo que não era justo só eu levar a notificação. Daí ela me contou sobre o que aconteceu contigo. Foi a única forma de eu parar de encher o saco dela. Porque eu realmente estava enchendo o saco dela.
– Mais cedo ou mais tarde alguém ia descobrir mesmo – disse Júlio entristecido – Agora isso explica o porquê de você ter mudado tanto comigo. Pelo menos isso né fez você me tratar melhor. A pena.
– Na verdade não. Eu fui te ajudar na porrada contra os caras que estavam na maior covardia contigo. Nessa hora eu ainda nem sabia de nada. Caí na porrada por conta da covardia.
Júlio sorriu levemente.
– Verdade. Mas já que sabe disso, te peço que não conte pra ninguém.
– Pode deixar.
– Valeu, vou entrar. A gente se fala amanhã no colégio.
– Pow to morrendo de sede.
Júlio chamou Rodrigo pra entrar em sua casa que ficava num quintal pequeno e com os matos descuidados e crescidos irregularmente. A casa era bem pequena também, mas bem organizada suficiente para as necessidades de Júlio. Rodrigo observava tudo indiscretamente enquanto conversavam.
– Você sabe cozinhar?
– Um pouco, mas sei fazer muito bem miojo.
– Vai almoçar lá em casa hoje moleque, minha mãe é super de boa.
– Tá tranquilo eu fiz comida ontem ainda dá pra semana inteira – disse Júlio dando-lhe um copo logo enchendo com água.
Rodrigo bebeu tudo de uma vez e disse:
– Tem que se alimentar bem cara.
– Pronto. Agora tá preocupado comigo. Sou um ano mais novo que você mais sei de muita coisa que você não sabe.
– Uhhh! – falou Rodrigo sorridente – Falou o experiente!
– Já bebeu sua água? Agora me deixa em paz pra fazer minhas coisas aqui valeu?
– Júlio. Eu não quero encher seu saco não. Quero ser seu amigo de verdade, pode confiar em mim. Eu sei que meu histórico contigo é queimadão, mas quero ficar de boa contigo, entendeu?
– Acho que sim Rodrigo. Mas atitudes futuras serão maiores que palavras de agora.
– Ok. Vou nessa. Precisar de mim, pode me chamar velho! De verdade mesmo – disse Rodrigo apertando-lhe a mão e olhando-lhe nos olhos.
– Falou! – respondeu Júlio inabalável.
No outro dia, Júlio acordou tranquilamente olhou para o lado e viu que já eram sete horas da manhã. Deu um pulo da cama, pois já era pra estar entrando no colégio. Hoje não tem mais sua mãe que o acordava sempre que ele perdia a hora. Colocou a roupa enquanto tentava mastigar um biscoito, que foi a primeira coisa de comer que viu pela frente. Escovou os dentes na velocidade 5, arrumou o cabelo com as mãos e saiu de bicicleta.
Chegou na sala de aula todo ofegante. A sala estava um falatório, parecia que a professora de Biologia tinha passado um trabalho em grupo porque todos estavam com as carteiras na posição de grupos. Deu bom dia para Sra. Beatriz, professora de Biologia.
– Bom dia Júlio – respondeu ela – UM GRUPO COM TRÊS COMPONENTES PRA ENCAIXAR O JÚLIO? - gritou pra turma.
– AQUI – gritou Rodrigo sorridente – O ÚNICO GRUPO COM TRÊS COMPONENTES AINDA.
– Vai lá Júlio, a tarefa é pra entregar na próxima aula. Já que não vai dar pra terminar hoje pelo que estou vendo.
Júlio se aproximou de Rodrigo, Cíntia e Jéssica.
Cíntia ficou olhando sorridente para Júlio como se estivesse feliz em tê-lo no grupo. Rodrigo foi logo apertando-lhe a mão Júlio não expressava nenhum sinal de alegria, pois queria estar no grupo de seu amigo Thiago, pois sabia que depois iria ter que ir na casa de um dos componentes do grupo pra terminar o trabalho e não estava nem um pouco a fim de ficar se misturando com Rodrigo.
Na hora do intervalo Thiago foi se desculpar com Júlio por não ter guardado um lugar pra ele no grupo. Júlio diz que ele vacilou mas que estava tudo bem.
Depois do intervalo a aula já era com outro professor e as carteiras estavam reorganizadas. Júlio voltou para seu lugar ao lado de seu amigo Thiago.
Na hora da saída Júlio já estava empurrando sua bicicleta pra fora do colégio quando Rodrigo, Jéssica e Cíntia se aproximaram dele.
– Júlio, bora lá pra casa – disse Rodrigo.
– Tá louco cara? O que eu vou fazer lá?
– Vamos nos reunir pra fazer o resto do trabalho.
– Mas já? A professora deixou entregar semana que vem.
– Mas a gente quer se livrar logo disso – disse Cíntia.
– Pow, deixa eu ir em casa comer algo, pelo menos, eu acordei atrasado nem café da manhã eu tomei direito.
– O Rodrigo ligou pra mãe dele falando que a gente ia almoçar lá hoje – disse Jéssica.
Júlio olhou sério pra cara de Rodrigo, fazendo-o para de sorrir na hora:
– Mas Júlio, na boa, se você quiser almoçar em casa a gente te espera lá. A gente começa e quando você chegar nos ajuda a terminar.
Júlio sorriu timidamente e disse:
– Vamos então.
Rodrigo sorriu.
– Isso, vamos acabar logo com essa porra desse trabalho de Biologia. Eu odeio essa professora – disse Jéssica.
Judite recebeu os amigos do filho super bem. Deixou-os conversando na sala enquanto terminava de preparar o almoço. O cheiro bom de comida rodeava a sala. Cíntia, Jéssica e Júlio conversavam na sala esperando Rodrigo que tinha ido ao quarto. Alguns minutos depois. Rodrigo aparece na sala sem camiseta, usava apenas um calção de futebol azul.
– Fiquem à vontade gente se quiser tirar a roupa podem tirar – disse ele.
– Ah palhaço – disse Cíntia de olho em seu corpo e reparando no volume de seu pacote. Rodrigo adorava se exibir.
– Quer um short emprestado Júlio?
– Não valeu. Eu tô bem.
– Júlio tá com vergonha de exibir o corpo porque a gente tá aqui – disse Cíntia pra Jéssica.
– Nem é – disse ele sorrindo de leve.
Rodrigo se jogou no sofá do lado de Júlio, mexia no celular.
– Você tem namorada Júlio? – quis saber Jéssica.
Todos olharam pra ele esperando a resposta.
– Não.
– Ih já tá de olho nele né Jéssica.
– Nada a ver só perguntei.
Judite chamou todos para almoçarem. Foi tudo uma festa. Conversaram bastante durante o almoço. Júlio gargalhava com as conversas de Rodrigo e se mostrava muito à vontade. Rodrigo percebeu que Júlio estava mais solto, mas resolveu não comentar para não intimidá-lo, ficou muito contente ao perceber isso.
O almoço estava muito saboroso e todos agradeceram a Judite, Cíntia se ofereceu para lavar a louça, mas Judite disse que não precisava. Disse que era melhor eles irem fazer o trabalho.
Todos foram para o quarto de Rodrigo. Ele se jogou em sua cama e fechou os olhos.
– Que isso Rodrigo? – perguntou Cíntia de braços cruzados.
– Ah deu sono agora. Pós almoço.
– Pior que deu o maior sono mesmo – comentou Júlio.
– Deita aí man, tem um espacinho pra tu – disse Rodrigo encurtando as pernas.
– Ah obrigado. Se eu soubesse que tinha vindo pra dormir não tinha nem hesitado.
Júlio conseguiu deitar todo torto no espaço cedido por Rodrigo e também fechou os olhos.
– Se o Júlio não quer, nem eu quero – disse Rodrigo ficando de bruços como se fosse dormir mesmo.
– Júlio até você! – exclamou Jéssica – Tá se deixando influenciar muito fácil pelo Rodrigo.
Júlio olhou sorridente pra Jéssica. Ela se aproximou e agarrou em seu braço para puxá-lo pra fora da cama. Rodrigo vendo isso começou a puxar o braço de Júlio pra baixo.
– Me ajuda Cíntia – disse Jéssica. Rapidamente as duas começaram a puxar Júlio que estava rindo e ao mesmo tempo sentindo uma leve dor em seu braço. Vendo que Júlio estava quase sendo puxado pra fora pelas meninas Rodrigo deitou seu peito em cima do peito de Júlio pra fazer peso. Todos ficaram assim por uns segundos e rindo. Até que Cíntia começou a fazer cócegas em Rodrigo e ele não aguentou e rapidamente saiu de cima de Júlio. Jéssica puxou puxando-o para o chão. Todos continuaram na crise de riso por uns minutos até que estavam todos deitados no chão recuperando o fôlego no que parecia o pós orgasmo de uma relação sexual.
Começaram a fazer o trabalho entre uma piada e outra. Júlio estava tão entrosado ao grupo que parecia que eram amigos há bastante tempo, como se todos os anos que Rodrigo tinha o perseguido não tivesse existido.
Duas horas depois, conseguiram terminar o trabalho. Durante a última hora ficaram tão empenhados em terminar logo que esqueceram até as brincadeiras isso garantiu que terminassem mais rápido.
Jéssica teve a ideia de jogar verdade ou consequência. Todos aceitaram. Foi aí que Cíntia quis apimentar a brincadeira dizendo pra brincarem só de consequência. Todos aceitaram. Cada um teria uma chance de escolher alguém do grupo que não fosse escolhido ainda pra fazer algo. Começou com Cíntia. Ela logo falou sem cerimônia:
– Escolho Júlio. Dar um beijo em Jéssica.
Jéssica ficou espantada, mas adorou a ideia.
– Ok – disse Júlio sorrindo e se movimentando em direção à Jéssica.
– Ih ele vai mesmo – disse Rodrigo impressionado. A cada hora que passava ele tinha uma impressão melhor de Júlio. Começava a perceber o quanto estava errado quando o achava um nerdizinho.
Júlio deu um beijo quente em Jéssica. Eles saíram sorrindo do beijo.
– Eita – exclamou Cíntia.
– Caralho – exclamou Rodrigo.
– Agora é o Júlio que escolhe porque foi escolhido pra cumprir a consequência – disse Cíntia sempre explicando a regra do jogo.
– Escolho você Cíntia pra beijar o Rodrigo – disse Júlio.
– Ah isso é fácil – disse ela – A gente já fez isso algumas vezes, mas vou beijá-lo pra você ver.
Cíntia beijou Rodrigo e os dois caíram no chão aos beijos.
Jéssica e Júlio começaram a rir.
Já que Cíntia já havia escolhido alguém pra pagar era vez de Rodrigo pedir.
– Dá até medo do que o Rodrigo vai pedir – disse Jéssica – Até porque ele só pode me escolher.
– Jéssica – disse Rodrigo com um olhar maldoso olhando pra porta pra ver se sua mãe não vinha. Falou baixo: – Quero que você beije a Cíntia.
As meninas colocaram a mão no rosto envergonhada, Júlio sorria de tudo. Até que elas consentiram e se beijaram.
Os meninos ficaram admirados e excitados com a cena.
As meninas riam de vergonha após o beijo. Jéssica disse que beijaria Cíntia de novo e todos começaram a rir.
– Mas agora é a minha vez de escolher algo pro Rodrigo – disse Jéssica com um olhar ameaçador e vingativo. Os meninos já previam o pior.
– Rodrigo, quero que você beije o Júlio.
– Ah não! – exclamou Júlio imediatamente.
_ Puta que pariu!
Cíntia caiu no chão gargalhando.
– Tem que fazer, a Cíntia e eu fizemos.
– Porra Rodrigo, por que você foi mandar as meninas se beijarem?
– Porque me dá tesão ué.
Todos começaram a rir.
– Olha, vai ser rápido essa parada e eu espero que isso nunca saia daqui – disse Júlio.
– Relaxa, não vai sair daqui não – disse Jéssica.
– Claro que não – confirmou Cíntia.
Rodrigo se aproximou de Júlio e o beijou. As meninas gritavam baixinho com a mão na boca para abafar o som.
Júlio olhava para Rodrigo sorridente e vermelho, Rodrigo estava vermelho também.
– Ah foi muito rápido e seco! Nem teve movimento! – reclamou Jéssica.
– Tu deu sorte que eu ainda beijei – disse Júlio revoltado – Me manda beijar homem e ainda quer que eu dê beijo molhado! Tá de sacanagem.
Todos começaram a rir da cara de bravo de Júlio.
Depois dessa brincadeira e vendo que estava começando a anoitecer todos consentiram em ir embora. Rodrigo foi levar todos no portão. O caminho das meninas era do lado oposto do caminho de Júlio, então elas se despediram de Júlio e Rodrigo e foram embora. Júlio se despediu de Rodrigo e já estava indo também quando Rodrigo o parou. Júlio ficou esperando-o dizer algo.
– Pow cara, obrigado por ter vindo. Acabou sendo divertido tudo.
– Tirando a parte que eu beijei você foi divertido mesmo – disse Júlio sorrindo.
Rodrigo sorriu eles apertaram a mão e Júlio foi embora.
Era quase nove da noite, Júlio estava na sala assistindo TV quando ouviu um barulho de buzina na rua. Sabia que era em frente a sua casa. Levantou-se e viu um carro pela fresta do portão, foi até o portão e abriu. Avistou Rodrigo e sua mãe no volante do carro.
– Oi Júlio – disse Judite com um olhar sério.
Rodrigo me encarava com um olhar apreensivo.
Perfeito! Venho lendo este conto e... incrível! Parabéns pela narração tão atrativa, Vitor! Vê se posta logo a continuidade, pf! Hahaha Abraços
ResponderExcluirAi eu amo sua escrita, continua logo. ABraços. Lucassh
ResponderExcluir